Este é um artigo cientifico produzido pelo biólogo Carlos Carrapato, que reproduzimos no jornal, mas que damos agora a conhecer na integra.
Mais uma nova espécie exótica predadora no baixo Guadiana foi capturado pela primeira vez, dia 07 de Fevereiro de 2010, 2 indivíduos da espécie
Lúcioperca (
Sander lucioperca), no Rio Guadiana, na zona de Mértola no interior do Parque Natural do Vale do Guadiana.
Segundo Filipe Ribeiro, investigador do Museu Nacional de História Natural e perito em espécies exóticas em Portugal, a
Lúcioperca é uma espécie da Europa Central que foi inicialmente introduzida na Catalunha (Espanha) na década de 70. Durante os últimos 30 anos, esta espécie exótica esteve restringida a esta região Espanhola, porém nos últimos 10 anos surgiu em Portugal e rapidamente foi introduzida ilegalmente em diferentes bacias hidrográficas por pescadores desportivos. Esta espécie foi detectada no rio Ave em 1998 e em 1999 no rio Douro. Em 2005 surgiu em duas bacias hidrográficas mais a sul, no troço principal do Tejo e no rio Guadiana (Barragem do
Lucefécite – Concelho do Alandroal). Em 2008, dois investigadores da Universidade da
Extremadura capturaram o
Lúcioperca na Barragem do Alqueva por isso era expectável a sua expansão para o Baixo Guadiana ao longo do troço principal.
Infelizmente esta provável dispersão para o Baixo Guadiana passou a ser um facto...
Infelizmente porquê?
Porque razão nos deve preocupar as espécies exóticas?
De acordo com dados preliminares de investigadores da Universidade da
Extremadura, a dieta do
Lúcioperca é constituída quase exclusivamente por peixes e certamente levará a alterações nas abundâncias dos peixes do Baixo Guadiana e terá impactos económicos nos recursos pesqueiros. O
Lúcioperca pode atingir tamanhos semelhantes às espécies de Barbos do Guadiana (60 cm), havendo um potencial de se tornar um recurso de pesca.
Porém, a sua introdução levará a mudanças nas abundâncias das espécies comercialmente importantes no Baixo Guadiana, como a Lampreia-marinha, o
Sável, a
Savelha, os Barbos e a
Achigã. Para além disso, a introdução de espécie exóticas predadoras, como o
Lúcioperca, poderá aumentar a pressão sobre as espécies de peixes únicas e endémicas(com localização exclusiva) do Rio Guadiana, como o
saramugo ou o barbo e boga do Guadiana.